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O Ser (não)sociável

  • Sofia Marra e Leticia Dias - 2ºMC
  • 26 de nov.
  • 4 min de leitura

Já dizia Aristóteles que a tal da felicidade está, também, em viver em grupo, nos

amigos, colegas, companheiros de trincheira. Lidar com qualquer pessoa pode ser

extremadamente difícil, se é complicado aturar a nós mesmos, imagine o outro. O fato é que,

apesar de guerrinhas, bate-bocas, afrontas, mentiras e roubos, sem falar nas injustiças e

moléstias, ainda decidimos viver em sociedade. Não basta toda ingratidão e perversão dos

nossos semelhantes escancaradas diariamente nos televisores ou na nossa cara, ainda

olhamos para toda essa ideia de concentrar as criaturas mais perigosas, imprevisíveis, sagazes

e inteligentes que esta terra já concebeu e pensarmos que procede, que pode dar certo

mantê-las vivendo juntinhas.

Os filósofos contratualistas já questionavam por que diabos vivemos de maneira tão

sociável, sendo que os danos e problemas nos parecem, várias vezes, irremediáveis. Em suma,

a resposta é sempre a mesma: com ela ruim, sem ela pior. Aparentemente se vivermos por nos mesmos, seria uma anarquia, direitos ilimitados, seria a guerra de todos contra todos e considerando que somos tantos e tão gananciosos, não sobraria geração alguma.

Fazendo sentido ou não, sendo salubre ou não, temos que dizer que existe algo latente

que nos impede de virarmos todos eremitas, por mais misantropo que seja: você nem sabe

fazer um lápis sozinho, quem dirá viver só. Parece raro, mas eu explico. Imagine que você

queira fazer um lápis, teu lápis, só e somente só teu. Acho sensato começar pelo projeto,

papel, régua, alguns cálculos, proporções e toda a arquitetura que envolve os projetos.

Contudo, já está esbarando em um problema, esse papel e essa régua não foi você que fez,

quantas mãos em todas as etapas industriais e de distribuição esses materiais passaram?

Primeira coisa que teria que fazer seria fazer o próprio papel e régua, mas como cortaria a

árvore ou extrairia o petróleo sem o equipamento? Você não fez a cerra nem os êmbolos de extração. Se, então, você quisesse pular para a etapa de produção direta, ia cair no mesmo limbo. A pedra de grafite, a tinta, a lixa, o machado e tudo que pensar em usar você não os fez, pior, milhares de outros em sintonia fizeram. Isso sem falar de que você não nasceu sabendo de tudo, alguém teve que ensiná-lo a calcular, a medir e a usar as coisas.

Queremos afastamento, temos medo do nosso vizinho, mas morreríamos sem ele,

pois tamanho é o luxo e complexidade da vida humana que viver nus nas selvas solitariamente

não nos basta (Graças a Deus!). Então, existe maneira de vivermos separados, sem contato,

mas sem abrir mão da sobrevivência e dos lápis? Talvez. Precisaríamos de desenvolver uma

tecnologia e inteligências robóticas muito autônomas e autossuficientes, criaríamos refúgios e lá fora a colheita, o processamento, a siderúrgica e usinas estariam em retroalimentação.

Dessa forma, o nosso trabalho sério no máximo organizar os funcionamentos e garantir que

tudo estivesse ocorrendo bem de maneira remota, claro.

Exatamente isso ocorreu na ficção de Isaac Asimov, O Sol Desvelado. Na obra existe

uma cidade sideral de nome Solária e tão grande é o desenvolvimento dessa megapole que um solariano não precisa do outro de imediato, um não vê o outro, um não quer o outro. Os solarianos trabalham por questões de saúde e sedentarismo e para não ficarem ociosos eternamente, se quisessem se trancaria em suas mansões e nunca mais sairiam, na verdade já fazem isso. Caso morasse lá, o contato mais próximo de você seria o seu vizinho a 20 km dependendo do tamanho do seu terreno.Trazendo essa (dis)utopia a realidade, quanto mais diferentes somos, mais diversos é o nosso jeito de pensar, amar, agir e falar, e com isso mais odiamos o outro, somos alérgicos ao singular. O perigo de um choque anafilático é real, o outro me ofende por existir, só somente só. A partir desse pensamento mais comum do que moralmente ele devia ser, o antialérgico parece obvio: isolamento e tecnologia. Dessa forma, fazemos criaturas que se odeiam e não se suportam viverem juntas até a sua enorme revolução tecno-científica que vai separá-los.

A união que fez a humanidade grande parece ter um único objetivo: evoluir até não

precisarmos dela. Uma separação que nunca chega na verdade.

Contudo, apesar dessa certa independência, o “afetar” permanece. A capacidade e

facilidade de humanos afetarem e criarem afeto é pertinente seja este terráqueo ou solariano.

Os solarianos seguem exercendo e sofrendo influência alheia. O que os outros vão pensar de

mim se eu fizer isso? Estarei tendo atenção se fizer aquilo? As mentes seguem sendo sociáveis,

apesar do contexto e vontade dizerem o contrário. O pensamento social e suas consequências, dessa forma, parece ser insuperável e não importa o quão distantes ainda estejamos de outros humanos, ainda vamos agir seguindo regras morais e legais como se ainda vivêssemos em

bando.

Todo o pacote que envolve ser criatura social está para lá de uma necessidade prática,

é um desejo biológico que, diferentes de tantos outros, está em algum grau fora de nosso

controle total. A humanidade é a socialização, é o viver junto e lidar com o social. Toda

grandeza da raça vem dos polegares opositores, o bipedismo e sua relação de amor e ódio aos irmãos. Assim como construímos o nosso mundo tecnológico para girar em volta dos polegares, visto na forma de uso de controles e botões, construímos todo tipo de sistema sobre o hábito social humano, superá-lo por completo é inviável e desumano. Se um dia

lograrmos superar esse dogma humana, os garanto, é porque não existe mais humano

nenhum

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