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“Sem negros não pode haver ouro, açúcar nem tabaco”: o que a frase do Conde de Galveias conta sobre a escravidão no Brasil.

  • Cecília e Maria Paula - MT
  • 28 de jun.
  • 3 min de leitura

André de Melo e Castro, o 4° Conde de Galveias, foi governador de Minas Gerais e, em seguida, vice-rei do Brasil até 1749, mas sua posição como político não é o que nos chama a atenção neste momento, mas sim uma citação de sua autoria de 1739, destacada por Laurentino Gomes no segundo volume da sua trilogia Escravidão. Esse homem de prestígio na sociedade brasileira colonial depositou em uma frase a exploração de um povo por mais de três séculos e o seu papel fundamental na economia e na construção do Brasil como um todo, dizendo: “Sem negros não pode haver ouro, açúcar nem tabaco”. 


O trabalho forçado de africanos e seus descendentes era explorado desde o âmbito doméstico até a mineração durante o período de legalidade. Inicialmente, foi muito incentivada essa mão de obra no nordeste, para que ela atuasse nas lavouras de cana-de-açúcar e nos engenhos, que formavam a base da economia da América Portuguesa na época. Em “Escravidão volume II”, Gomes denuncia que dentro desse afazer, os escravizados eram submetidos à uma longa jornada de trabalho, condições precárias de vida e castigos físicos frequentes, em épocas de safra, as caldeiras ferviam noite a dentro, sendo alimentadas com lenha pelos cativos sob altas temperaturas. Além disso, os cativos eram obrigados a realizar diversas funções, desde pescadores até cozinheiros, entretanto, poucos exerciam de fato os trabalhos especializados, como mestre de açúcar. Em relação às senzalas existentes dentro das fazendas de açúcar, o autor expõe que os locais para dormir eram abafados, sem ventilação e de condições insalubres, e, muitas vezes, os escravos deviam dormir no chão ou em redes, porém, por ser uma mão de obra abrangente e eficiente para a época, a exploração dos escravos se via necessária para o desenvolvimento da economia da colônia e da metrópole. 


Outro produto de destaque na colônia foi o tabaco produzido no Recôncavo Baiano. Para essa atividade, numerosos navios negreiros se destinavam à Costa da Mina para atender à crescente demanda de mão de obra escravizada para a produção massiva de tabaco, após a descoberta da folha originária na América, que começou a ganhar bastantes consumidores pelo mundo. Durante esse período, também se iniciou uma segmentação dentro da produção de tabaco, em que os tabacos de melhor qualidade eram destinados à Europa, para serem usados em charutos, enquanto a versão de qualidade inferior, conhecida como soca, era destinada à África, e passou a ser utilizada como moeda de troca entre os escravizados. Inclusive, os holandeses realizaram o contrabando do tabaco no Brasil como forma de realizar o tráfico de cativos na região. Desse modo, revela-se mais uma vez a importância da mão de obra escrava no Brasil para o desenvolvimento econômico mundial. 


Mais tarde, os negros se tornaram a maioria da população de Minas Gerais, estado ainda pouco ocupado até a descoberta de ouro e diamantes nas regiões inexploradas do território. Nesse contexto, ganhou notoriedade o tráfico de africanos da Casta da Mina, que já estavam habituados à mineração e ao chegarem aqui encontraram dois caminhos: o garimpo do ouro de aluvião e a escavação em minas. No primeiro, os cativos manejavam uma bateia para separar as pepitas e diamantes da areia e ficavam cerca de 12 horas com o corpo mergulhado até a cintura na água de riachos, o que lhes era profundamente prejudicial. Também aqueles que trabalhavam na exploração em terra firme encaravam o sofrimento, neste ambiente representado pelos buracos escavados perigosamente no improviso e os deixavam susceptíveis a quedas, fraturas, desmoronamentos ou inundações repentinas. 


Assim, a labuta dos escravizados era árdua, esgotante e perigosa. Laurentino Gomes ressalta na sua obra que ela começava ainda antes do nascer do sol e escreve: “No Brasil colonial, trabalho e escravidão caberiam no mesmo verbete de um dicionário”, evidenciando a dependência do país do sistema escravista e a riqueza produzida pelos escravizados, fazendo uma ligação com a frase do Conde de Galveias, sem que lhes fosse destinado nada além de uma alimentação precária, que levava a inúmeros casos de disenteria, um tratamento violento e um olhar de desprezo toalmente contrário ao posicionamento religioso cristão dos exploradores. De tal modo percebe-se que o trabalho escravo foi extremamente importante para o desenvolvimento da econômica de diversos setores, como agricultura, açucareira, e aurífera, entretanto, os cativos foram alvo de grande exploração violenta e forçada, sem reconhecimento ou remuneração, sendo tratados feito mercadorias, e não seres humanos. 


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