A Revolução Industrial do século XVIII modificou intensamente o processo de produção e o comércio mundial para sempre com o surgimento de um maquinário avançado para maior rendimento sob menor custo, impulsionando a urbanização e remodelando as relações laborais no sistema capitalista industrial. Assim como ela, a Segunda Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XIX, foi um período marcado pelo grande desenvolvimento tecnológico na industrialização, produção em massa, racionalização do trabalho e criação de novas relações sociais entre o ser humano e o meio.
Esses avanços e inovações contribuíram demasiadamente para a transformação do modo de vida da sociedade do século XVIII e XIX, promovendo o desenvolvimento econômico, a urbanização crescente, estabelecendo novas relações de trabalho e contribuindo com o desenvolvimento tecnológico de diversos países. Entretanto, esse grande passo veio acompanhado de numerosos impactos negativos para a sociedade que são refletidos até os dias atuais, tal como o aumento do desemprego e da desigualdade, já que a mão de obra humana vem sendo substituída pela mecânica juntamente à concentração de riquezas nas mãos de grandes proprietários exploradores da mão de obra de outrem, e a piora nas condições de trabalho, pois pela falta de outros recursos os empregados se submetem à alta carga horária, aos baixos salários e à insalubridade no espaço de trabalho.
Sob esse ponto de vista, pode-se exemplificar essa realidade a partir da narrativa do livro “O Germinal” do escritor Émile Zola. A obra naturalista narra a vida dos trabalhadores das minas de carvão na França, durante o período da revolução industrial, expondo as condições desumanas às quais os operários eram submetidos, como longas jornadas de trabalho, e o cinismo da burguesia perante a situação. Assim, a realidade exibida no livro é muito semelhante à de diversos trabalhadores do século XXIII e XVI, que sofriam com a falta de direitos trabalhistas e abusos nos ambientes de trabalho, ademais, percebe-se que a exploração da classe proletária perdura até os dias atuais.
Visto isso, durante o avanço da industrialização e a precarização das condições de trabalho, em 1842, ocorreu uma das primeiras greves levantadas pela classe trabalhadora na Inglaterra, que reivindicava o aumento salarial e uma mudança política radical contra o sistema vigente. O movimento foi severamente reprimido pelas autoridades e não teve efeito esperado, porém as ideias defendidas foram usadas de base para diversas outras greves trabalhistas. Muitas dessas se deram no Brasil posteriormente ao processo de industrialização e vários direitos trabalhistas foram conquistados, como a regulamentação do expediente de trabalho (limitado a 8 horas), o estabelecimento de um salário mínimo, o 13° salário e a proibição do trabalho infantil. Um exemplo de mobilização trabalhista que alcançou o que almejava foi a greve geral de 1917, ocorrida em São Paulo, que reivindicava pautas acerca de melhorias salariais e diminuição da jornada de trabalho. Tal evento influenciou também no início das negociações entre patrões e funcionários para aumentos salariais e no aumento da força dos sindicatos.
Apesar de protestos, como o de 1917, terem contribuído para a melhoria das condições de trabalho no Brasil e no mundo, a massa trabalhadora da sociedade contemporânea ainda não possui acesso a todos os seus direitos, sendo explorada pelos grandes proprietários com o único fim de gerar lucros que não retornam a ela. Sob essa perspectiva, dados apontam que em 2023, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou cerca de 3.190 trabalhadores que viviam em condições análogas à escravidão, recebendo baixíssimos salários e trabalhando sob cargas horárias extensas. Dessa forma, pode-se notar os resquícios das más condições de trabalho impostas pela Revolução Industrial nos tempos atuais com a perpetuação das relações injustas entre os operários e os burgueses e um progresso econômico e tecnológico excludente.
