No final do século XX, o mundo presenciou o surgimento do pensamento pósmoderno, que é caracterizado pela desconfiança em grandes narrativas abrangentes e na ideia de verdade universal. Como Jean-François Lyotard afirma em “A Condição Pós-moderna”, a pós-modernidade representa um “ceticismo em relação às metanarrativas”. Em outras palavras, os discursos que antes organizavam e explicavam o mundo começaram a ser questionados. No entanto, ao relativizar radicalmente o conceito de verdade, o pós-modernismo acaba abrindo caminho para uma situação em que tudo é subjetivo, minando os padrões de validade e ameaçando a ciência.
Nesse contexto, como alerta Zygmunt Bauman em Modernidade Líquida, vivemos em uma era marcada pela fluidez dos relacionamentos, da ética e do próprio conhecimento. A ausência de uma verdade mínimanente estável leva à fragilidade das instituições, à proliferação de notícias falsas e à dificuldade crescente de distinguir a realidade da ficção. A verdade, antes entendida como base do debate racional, passa a ser percebida como construção arbitrária.
Essa situação de relativismo extremo põe em risco até mesmo a ciência. O filósofo Luc Ferry retrata o pós modernismo como a uma “oposição ao real” baseada em argumentos racionais e em aspectos da filosofia de Nietzsche e Foucault. Sendo uma ruptura com os ideais universais da modernidade, como a razão, o progresso, a lógica e a moral previamente construídas, vistos agora como construções históricas e culturais. A espiritualidade, por sua vez, perde influência, sendo classificada como portadora de “verdades transcendentes” e transformada em uma filosofia niilista. De modo geral, o pós-modernismo nega a existência de padrões objetivos, repagina ideias seculares e propõe novos questionamentos sobre a vida, a moralidade e a divindade.
Portanto, embora o pós-modernismo tenha relevância ao denúnciar das limitações do pensamento moderno e ao ampliar a escuta de diferentes vozes, sua negação radical da verdade absoluta desencadeou uma crise que ameaça a possibilidade de diálogo social e construção coletiva. Há, portanto, uma necessidade urgente de recuperar a ideia de uma verdade provisória, crítica, demonstrável – uma verdade que não se impõe como um dogma, mas um terreno comum sobre o qual as diferenças podem ser eliminadas.
