Quando verdades absolutas deixam de existir, o ser humano passa a considerar suas próprias convicções tão legítimas quanto quaisquer outras. Esta relativização cria uma ilusão de liberdade: grupos historicamente silenciados ganham mais espaço, já que as vozes antes dominantes perdem sua autoridade inquestionável. Contudo, a dissolução dos parâmetros do que é “certo” gera profunda incerteza sobre questões fundamentais, comprometendo nossa capacidade de tomar decisões coletivas e conduzir debates produtivos.
No cenário político, este fenômeno manifesta-se claramente: as discussões transformam-se em disputas de narrativas. Em vez de buscar evidências concretas, cada lado defende sua própria versão da realidade, frequentemente baseada em emoções ou crenças pessoais. Como todos se consideram detentores da verdade, a polarização se intensifica e o diálogo genuíno raramente ocorre. As redes sociais exemplificam perfeitamente esta dinâmica – os participantes geralmente estão mais interessados em “vencer” o debate do que em compreender perspectivas diferentes.
Talvez o maior desafio do pensamento pós-moderno se encontre na sua relação com a ciência. Embora a ciência tradicionalmente busque verdades fundamentadas em evidências, o pós-modernismo introduz uma crítica importante: mesmo o conhecimento científico é produzido por seres humanos sujeitos a interesses, limitações e vieses. Esta perspectiva não diminui o valor da ciência, mas demanda uma consciência crítica mais aguçada. Infelizmente, tal relativismo também abre espaço para movimentos negacionistas, como os adeptos da teoria da Terra Plana ou aqueles que rejeitam a eficácia das vacinas. Estes grupos se apropriam do princípio “não existem verdades absolutas” para legitimar opiniões sem qualquer fundamentação empírica ou racional.
