top of page

O Poder Político da Copa do Mundo

  • Felipe Nacif e Pedro Henrique - MT
  • 19 de nov.
  • 4 min de leitura
ree

Quando se fala em métodos de alienação social por meio do uso do entretenimento, o exemplo histórico é clássico: o Império Romano promovia eventos esportivos no Coliseu em momentos de crise no Império e de crescente dos levantes populares, atraindo a população através do entretenimento e estimulando o esquecimento dos problemas políticos vividos. Essa estratégia adotou o famoso nome de “Política do Pão e Circo” nesse contexto, mas essa política romana está muito longe de se restringir aos tempos antigos, pelo contrário, está mais presente nos dias atuais do que se imagina.


Cerca de 1500 anos depois da queda do Império Romano, as pessoas não vão

mais ao Coliseu para assistir aos espetáculos, mas, por sua vez, aos estádios. O

surgimento do futebol na sociedade ocorrido entre o fim do século XVIII e o início do

século XX se envolve com seu respectivo contexto de industrialização e do

surgimento de grandes cidades, onde as pessoas, como forma de fuga da pesada

rotina de um operário de uma fábrica, encontrando assim uma maneira de se distrair

em meio a esse difícil dia a dia. Assim, com o passar do tempo, o esporte foi se

enraizando cada vez mais na sociedade, difundindo-se entre populações de todo o

mundo e, principalmente, entre as classes mais baixas da sociedade, movendo

multidões toda semana para acompanhar mais uma partida. Essa mobilização social

em torno do futebol não fugiu aos olhos dos políticos de todo o mundo, que

entenderam rapidamente como executar um “Pão e Circo moderno”.


Se tem uma forma de comprovar que o futebol movimenta populações o tempo todo é através da ilustre Copa do Mundo: um torneio que para todo o planeta, que une países inteiros e que comove até quem não acompanha o futebol. Isso se percebe uma vez que, a final da mais recente edição da competição, foi assistida por 1.5 bilhão de pessoas ao redor do mundo, segundo levantamento da FIFA. Desde o ano de 1939, quando o torneio foi inaugurado, milhões (ou até bilhões) de pessoas de todos os continentes torcem em favor de seu país ao se sentirem representados por sua respectiva seleção nacional. Dessa forma, com tantas pessoas envolvidas e entretidas por um espetáculo esportivo que favorece o sentimento patriota, a Copa do Mundo se torna, nos olhares políticos, uma isca cada vez mais evidente para uma presa cada vez mais fácil.


No ano de 2010, o Catar foi eleito como país-sede da Copa do Mundo do ano de 2022, em uma definição surpreendente devido ao pequeno tamanho do país, bem como por sua também pequena população que se limita a cerca de 3 milhões de pessoas. Entretanto, com o passar do tempo, outros aspectos dessa eleição roubaram os holofotes: o jornal inglês “The Guardian” revelou que ocorreu um esquema de compra de votos para favorecer a eleição do país árabe como sede do torneio mundial. Por fim, a candidatura do Catar é um claro exemplo de “sportswashing”, um termo definido pela participação de corporações ou de governos no futebol como forma de limpar a própria imagem diante da população. Por trás desse pequeno território litorâneo acontece um regime extremamente autoritário, caracterizado pela dura repressão à população e pelas condições desumanas de trabalho impostas no país, como ocorreu, inclusive, na construção de estádios para a competição, onde se estima que resultou na morte de mais de 6 mil imigrantes devido às condições desumanas de trabalho.


O exemplo anterior parece estar se tornando não só um episódio, mas sim uma

tendência, onde mais ocorrências similares vêm se tornando comuns com o passar

do tempo: a próxima Copa do Mundo, que ocorrerá no ano de 2026, será disputada

nos 3 países da América do Norte: México, Canadá e Estados Unidos. Nesse

contexto, é cada vez mais evidente a aproximação política entre a FIFA e o líder

estadunidense Donald Trump, que se reúnem frequentemente para discussões

políticas envolvendo o futebol, além de apresentarem posicionamentos alinhados e

tornarem os Estados Unidos como um país que constantemente recebe eventos

esportivos. A intenção desses movimentos se caracterizam por passar uma

propaganda política do país estadunidense, e principalmente do líder republicano

Donald Trump, trazendo um consenso favorável sobre si.


Ainda há o crescimento da participação da Arábia Saudita em eventos esportivos, sendo eles os anfitriões da Copa do Mundo do ano de 2034, além de também se aproximar cada vez mais com a federação internacional de futebol através do Fundo Saudita, que vem sempre investindo ultimamente em eventos mundiais de futebol. Os bastidores sauditas, por sua vez, se aproximam mais do Catar do que dos Estados Unidos, uma vez que utilizam de seus grandes investimentos financeiros para limpar a própria imagem constituída do repressivo sistema absolutista de seu governo, também marcado pelo descaso à população, em um novo exemplo do apresentado termo “sportswashing”.


E todos os aspectos apresentados anteriormente contam com o apoio da Federação Internacional de Futebol através das compensações financeiras que são feitas através dos altos investimentos destinados tanto para a Federação quanto para a organização do torneio, apesar dos absurdos episódios ocorridos durante este processo. Assim, a tal da “Política de Pão e Circo” se vê mais presente do que nunca, porém em contextos diferentes e utilizando de diferentes entretenimentos. Apesar disso, o conceito desse método conservou muito bem seu propósito, no momento em o grande descaso às pessoas é mascarado por uma simples partida de futebol.



Comentários


  • Instagram

©2025 por Pega Visão. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page