O NSBM como instrumento de disseminação de propaganda neonazista noBrasil

A música é uma manifestação cultural carregada de influências sociais e políticas. Por vezes, ela foi usada como ferramenta de resistência a regimes autoritários, como ocorreu durante a ditadura militar no Brasil, no entanto, o cenário atual no país é o oposto: o movimento nazifascista tem crescido no meio musical, especialmente em alguns subgêneros do metal.

O metal foi um gênero musical que surgiu em meados dos anos 70, com a estreia de bandas como Black Sabbath, que tinha como principal marca o uso de guitarras com bastante distorção e vocais mais agressivos em relação ao rock sessentista. Com o passar dos anos, o estilo foi se subdividindo em diversos outros subgêneros, como o trash metal, doom metal, heavy metal, death metal etc.

O black metal foi um subgênero do metal que sofreu grande influência do heavy metal e que se consolidou em meado dos anos 90 na Noruega. As principais características do black metal são o uso de vocais extremamente rasgados, guitarras com tremolo picking e um instrumental mais sombrio. As temáticas apresentadas nas letras variam de banda para banda, mas elas podem englobar temas como ocultismo, natureza, misticismo, depressão etc. Assim, surgem os núcleos de bandas que enfocam no mesmo tema de letra, como o black metal atmosférico, black metal sinfônico, doom black metal etc.

Dentre as diversas comunidades dentro do black metal, o NSBM (National Socialist Black Metal) é considerado uma das mais problemáticas e mais utilizadas para a propagação de ideais neonazistas pelo mundo. O movimento do NSBM tem como principal foco a disseminação de ideais radicais de extrema direita, como antissemitismo, supremacia branca, racismo, homofobia, preconceito religioso e totalitarismo. Entretanto, é necessário apontar que apesar de ter sido inspirado em bandas de black metal (em termos de sonoridade), esse subgênero é extremamente isolado e execrado por estudiosos e fãs do black metal, já que o black metal tradicional tem como principal foco temático a rebeldia e não aceitação de opressão, instituições e dogmas, sendo opostos aos ideais do NSBM. Assim, conclui-se que o NSBM do ponto de vista sonoro pode ser identificado como uma corrente do black metal, mas do ponto de vista ético cultural da cena ele é rejeitado como parte do black metal, justamente pela divergência de ideais.

Assim, em meados dos anos 90, bandas como Absurd, Graveland e I Shalt Become surgiram, introduzindo o NSBM ao mundo. E além das letras de enfoque opressor e nazista, os shows realizados pelas bandas se tornavam um palco de disseminação de ódio, recrutamento de seguidores para aproximação com o nazifascismo e ponto de encontro de diversos extremistas pelo mundo. Ademais, com o advento da internet, a disseminação dessas bandas por meio de plataformas online impulsionou cada vez mais o crescimento dessas comunidades no Brasil e no mundo.

No Brasil, levantamentos apontaram que mais de 125 bandas de NSBM estão em atividade, e lançaram cerca de 600 álbuns disponíveis em diversos aplicativos de música. Além disso, em aplicativos como Telegram, ocorrem as reuniões entre os grupos de todo o mundo para recrutamento de membros para pôr em prática as ações extremistas defendidas pelos grupos. Um dos administradores de um dos canais de comunicação era um brasileiro, que foi preso duas vezes por furto e cárcere privado. Tais casos têm sido divulgados timidamente pela mídia brasileira e é impossível negar a necessidade de alerta da população para que ela seja capaz de identificar esses grupos extremistas e combater seu discurso violento.

Desse modo, percebe-se que o NSBM não se baseia apenas em letras que cultuam o ódio, mas também prega a prática dessas letras de forma perigosa dentro da sociedade contemporânea. Com os meios digitais aumentando o alcance do movimento ao público mais jovem, muitas vezes sem o discernimento para condenar letras criminosas, é imprescindível a atuação coletiva para a regulação da mídia e a contenção desse problema crescente no Brasil.