top of page

O Maquinário da Crença

abr 25

4 min de leitura

0

0

0


“O filho de Deus morreu; isto é crível por que é absurdo; e sepultado ressuscitou; isto é certo por ser impossível.”

  • Tertuliano


Talvez a parte menos crível desse paradoxo seja o fato de tê-lo lido em um conto de terror psicológico de Edgar Poe, um bom amigo para se ler antes de dormir. O mais obvio seria tê-la lido em algum ensaio de alguma escola patrística que fui forçada a estudar por exigências curriculares da nossa já comentada BNCC. Mas, não. Quando meus olhos tocaram nessa frase, tive que interromper a história na metade, refleti sobre e saquei as minhas próprias conclusões céticas. E a parte ainda menos certa foi a minha ação de eleger esse tema religioso, não sou religiosa, apenas admiro a arte da Igreja Católica.


Ser arte foi a minha primeira conclusão sobre esse paradoxo. Bem articulado de tal maneira que nos faz engasgar, mas quando mastigamos um pouco mais é palatável. O primeiro gosto não se compreende bem do que se trata, tão pouco se percebe uma lógica palpável por trás, contudo isso só a torna mais mística e, ouso dize que, chega a ser provocante com sua certeza de verdade absoluta. A minha segunda não se preocupou em meditar sobre o mistério da ressureição de Cristo, mas pelo motivo que faz dessa frase tão inquietante para mim. Logo entendi que não era seu tema, mas como ela logra suscitar todas as crenças e a base do templo católico.


Se as pilastras da filosofia é o logus, a fé, o mistério, o simples crer de todo coração são as rochas, as colunas, cúpula e altar da religião. O poder da crença, oh, criatura, seja você de qualquer tribo de Israel e que cultue deuses com várias cabeças, elementais, que foi feito a imagem e semelhança humana ou não, e até que crê que Ele está morto (pensamento nietzschiano, favor não atirar pedras na autora) é inegável, talvez umas das poucas verdades universais realistas. A nossa raça, irmãos, é aquela que crê em linhas imaginarias que divide terras, que papeis com números podem ser trocados por joias, carros e casa, que acha plausível deixar de fazer algo ou cumprir determinações pois existem conceitos imateriais que dizem que é assim que devemos nos portar e que pensa que existe total razão em manter sistemas de poder que não concebemos. Tudo movido na crença. Sem ela, o motor da humanidade não teria nem sequer existido, possivelmente, viveríamos isolados, contudo, com mais pelos debaixo do braço e sem impostos também. Sem fé, sem lei, sem rei. Mais que bela tragédia para a potência de 86 bilhões de cavalos do cérebro humano. Que horror.


Quando comecei a ler a Bíblia por livre-arbítrio que a Dona Eva nos ofereceu a muito tempo, os sermões e parábolas, focando no Novo Testamento, me ensinaram sobre essa fé que estou exaltando tanto. Se aparecesse a seguinte pergunta na minha prova de Educação Religiosa (Saudades, prof. Cléber!): “Qual é a base do pensamento/conduta cristã?”, eu responderia: “De forma sintetizada, a crença no amor como maneira de ver o mundo.” Ninguém pode discordar de tal afirmação, se a mensagem de Cristo é o amor, logo o amor deve ser o composto mais simples dentro do cristianismo.


Acho que devo explicações melhores para lograr um total na questão. A crença, como já discutido, nos leva a consolidar práticas e sistemas socias e pessoais complexo, arrisco caracteriza-las como incontestáveis várias vezes, assim, considerando o discurso do Cordeiro


junto a esse alicerce, ao acreditar no amor, em todas as suas formas, nos o coroamos com o poder da crença.


O amor é um conceito muito amplo. Refere-se a tantas coisas. A compaixão com os semelhantes na guerra, a gratidão que surge por simplesmente está sozinho e tranquilo em casa, a euforia da infância de rever os amigos depois dos longos meses de férias, a revolta pela injustiça no inocente, o ódio de saber que alguém anda maltratando seu melhor amigo, a tristeza pela tristeza da sua mãe depois de um dia longo, a satisfação depois de cuidar de si mesmo e até a função trigonométrica que é a irmandade, com altos e baixos, mais baixos do que altos, mas tudo bem. Ter fé nesse amor, crer que você e o mundo enxerga os seres viventes que rastejam e caminham, selváticos e domésticos, dotados de razão ou não, atleticanos ou cruzeirenses como criaturas que amam dessa maneira e por isso querem lutar por si, pelos outros, pelo bem e felicidade geral, muda muita coisa.


Lembre-se, crer é poder no final da soma. Me disseram uma vez que se sua fé for do tamanho de um grão de mostarda, você será capaz de mover rios, domar os ares e mover montanhas. “Então, eu não preciso de ter muita fé?”. Foi uma pergunta válida, eu estava no auge dos sete anos de idade. Eles só me negaram, me falaram que não era isso, e, obvio, não me explicaram tão pouco. Foi tipo ler a Bíblia, ela conta muitas coisas, mas não me explica nada. É muita crença, é muito da simples fé inteligível para minha personalidade puramente sensitiva. Apenas com o paradoxo de Tertuliano pude compreender essa outra frase também. Foram oito anos para fazer uma sinapse completa, eu mereço entrar no Guinness Book. Não é pouca fé, é sobre como uma porção tão pequena é tão poderosa, mesclado com o puro amor, nossa visão e atitude seria diferente de tudo que já vimos. Mas ainda somos humanos e sempre seremos. 




Related Posts

Comentários

Share Your ThoughtsBe the first to write a comment.
  • Instagram

©2025 por Pega Visão. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page