O Congado e o seu legado como patrimônio
- Felipe Nacif e Pedro Henrique - MT
- 28 de jun.
- 3 min de leitura
Após um processo que durou cerca de 20 anos para se concretizar, o Congado finalmente teve seu reconhecimento registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no mês de Junho de 2025, e assim foi tombado como bem imaterial do patrimônio histórico brasileiro, marcando assim a valorização de um dos vários marcos culturais de herança africana presentes em nosso país e fazendo com que a grande riqueza da cultura afro-brasileira se mantenha viva na memória dos brasileiros.
O Congado é uma manifestação brasileira de origem africana e de caráter cultural e religioso, no qual remete à celebração e coroação do rei do Império do Congo, Estado pré-colonial do continente da África. Os cultos dessa manifestação cultural possuíam uma mescla de elementos religiosos, sendo especialmente entre o catolicismo e algumas das diversas religiões presentes no continente africano, em um sincretismo feito como forma de preservar essa fé, já que tais celebrações de matrizes africanas eram banidas pela Igreja Católica na época. Este folguedo chegou no Brasil através da escravização de homens, mulheres e crianças negras que atravessavam forçadamente o Oceano Atlântico nos navios negreiros. Dessa maneira, essas pessoas tentavam exercer suas culturas em solo brasileiro, mesmo que houvesse a dura repressão colonial em relação à liberdade e ao exercício de suas crenças e festividades, marcando o Congado como uma maneira de resistência desses
Desde os meados do Século XVII, já eram evidentes as realizações da coroação do rei de Congo no Brasil, sobretudo na região do Nordeste, onde esses eventos ocorriam na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na cidade de Recife, além de ocorrer também em Salvador desde 1704. Apesar disso, é no estado de Minas Gerais onde hoje em dia estão presentes a maior parte das práticas do Congado, constituindo assim mais de mil grupos ativos em terras mineiras, sendo essas manifestações em mais de 330 municípios do estado. Essas expressões culturais já eram declaradas como patrimônio imaterial cultural de Minas Gerais desde agosto de 2024 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA).
Então, o Congado e suas cerimônias possuem em seus enredos 3 histórias: a vida de São Benedito, o encontro com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e a luta do rei franco Carlos Magno, ou Carlos, o Grande, contra a invasão moura em meio à tentativa de expansão da fé islâmica, além de fazer devoção, junto aos santos já citados, à Santa Efigênia.
Apesar disso, as festividades dos Saberes da Nossa Senhora do Rosário ainda não são reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em um movimento que seria essencial para a valorização e o conhecimento popular das culturas afro-brasileiras, especialmente devido à grande repressão sofrida durante a época colonial brasileira e a realização da escravidão de maneira legal constitucionalmente, apesar de sofrer uma forte desvalorização séculos depois da era colonial. A consequência de todos esses fatores é o desconhecimento da história do Congado e de outras comemorações de origens africanas pela sociedade de forma geral, além de que, até os dias de hoje, ainda permanece o preconceito de uma parcela da sociedade em relação a esses costumes.
Dessa maneira, o tombamento por um órgão mundial seria essencial não só para o Congado, mas como para toda a cultura de origem africana em geral, uma vez que a história que se conta e que se tem conhecimento se passa majoritariamente em solo europeu e são protagonizados pelos europeus, ocasionando com que sejam marginalizadas diversas outras culturas como as tratadas neste texto. Portanto, o reconhecimento mundial seria crucial para a divulgação e para o enaltecimento de manifestações que são postas em posições periféricas.

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