Metanol: o veneno invisível nas bebidas e a química por trás de uma tragédia contemporânea
- Maria Eduarda Lima e Mariana de Castro - MC
- 8 de out.
- 2 min de leitura
O metanol, também denominado álcool metílico (CH₃OH), é um composto químico
de estrutura simples, porém de elevada toxicidade. Nos últimos anos, episódios de
intoxicação e morte causados pela ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas com
metanol têm chamado a atenção da sociedade e das autoridades sanitárias.
Compreender os princípios químicos que envolvem essa substância é fundamental
para analisar a gravidade dos acontecimentos recentes e propor medidas
preventivas eficazes.
Do ponto de vista químico, o metanol é obtido, principalmente, por meio da reação
entre monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H₂) sob condições de alta temperatura e pressão, em um processo industrial conhecido como síntese de metanol. Diferentemente do etanol (C₂H₅OH), que é produzido por fermentação de açúcares provenientes de fontes vegetais como a cana-de-açúcar ou o milho, o metanol é um álcool de uso industrial, aplicado na fabricação de solventes,plásticos, combustíveis e formaldeído. Dessa forma, ele não é destinado ao consumo humano.
Apesar de suas semelhanças físicas com o etanol — ambos são líquidos incolores e
voláteis, de odor semelhante —, o metanol apresenta comportamento metabólico
extremamente perigoso no organismo. Após a ingestão, ele é metabolizado no fígado pela enzima álcool desidrogenase, que o converte em formaldeído e, posteriormente, em ácido fórmico. Essas substâncias são altamente tóxicas, promovendo acidose metabólica, lesões neurológicas e, com frequência, cegueira
irreversível ou morte.
Os casos recentes de bebidas adulteradas com metanol refletem uma questão de
saúde pública e de responsabilidade química. Em busca de redução de custos, produtores ilegais substituem o etanol por metanol, desconsiderando as reações químicas envolvidas e as consequências fisiológicas desse ato. A química, nesse contexto, desempenha papel duplo: é tanto o instrumento que permite identificar e
compreender o problema — por meio de análises laboratoriais que detectam a
presença de metanol — quanto a base das intervenções médicas, como o uso de
etanol terapêutico ou fomepizol, substâncias que competem com o metanol pelas
enzimas hepáticas, inibindo a formação dos compostos tóxicos.
Esses episódios ressaltam a importância da educação química, da fiscalização
sanitária e do consumo consciente. O conhecimento científico possibilita distinguir
substâncias de aparência semelhante, mas de efeitos radicalmente diferentes, e
reforça a necessidade de compreender a química não apenas como ciência teórica,
mas como ferramenta de proteção socia





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