Nesta resenha, será discutido a questão de individualidade e humanismo na visão filosófica, usando como base as ideias de Sócrates e de Erasmo de Roterdã. Esses ideais serão explorados com o intuito de mostrar como a religião, quando aceita sem reflexão, pode limitar a liberdade de escolha e esconder o aspecto humano de cada pessoa. Sócrates, em seus diálogos, questiona de onde vêm e por que existem as regras “divinas”, comprovando que seguir dogmas sem usar a razão transforma o indivíduo em executor de normas alheias à sua reflexão. Erasmo, em Elogio da Loucura, usa ironia para criticar o rito religioso que valoriza cerimônias e roupas sagradas em vez do amor ao próximo e da liberdade interior de cada um.
Um exemplo claro dessa tensão aparece no Levítico (15:19–24), que exigia que mulheres se afastassem da sociedade e do templo durante a menstruação. Essa norma, criada num tempo de tabus e sem conhecimento de higiene, é hoje impraticável e contrária ao avanço da dignidade e da igualdade de gênero. Manter regras assim no presente é aprovar a exclusão e negar o direito pleno das mulheres. Além disso, trata‑se de um anancronismo: preceitos formulados para outra época não podem ser aplicados ao nosso contexto atual sem perder sentido e justiça.
Conclui‑se que o verdadeiro caráter humanista da religião surge quando suas práticas passam pelo exame da razão e pelo debate crítico. Rever tradições não é rejeitar a fé, mas valorizar seu lado ético: uma crença que fortalece o indivíduo, respeita sua liberdade e se atualiza segundo os valores de justiça e pluralismo atuais. Só assim a religião age como ponte entre o humano e o divino, em vez de se tornar um peso de normas antigas.