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A QUÍMICA DA INTOXICAÇÃO: PRODUTOS DE LIMPEZA E AFORMAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS TÓXICAS EM AMBIENTES DOMÉSTICOS

mai 28

4 min de leitura

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Riscos à saúde pública e medidas de prevenção no manuseio e armazenamento


O uso de materiais de limpeza doméstica se tornou essencial para a higienização, no cotidiano, seja de casas, lojas ou colégios, contribuindo na melhora odor e aparência desses lugares. Na sociedade, a mistura de produtos ocorre desde a segunda metade do século XIX, mas se popularizando nos anos 2000, onde influenciadores, revistas e blogs populares começaram a incentivar a criação de compostos caseiros e a mistura de produtos já existentes, resultando em uma solução com maior eficiência na limpeza. Apesar de verdadeiro, a mistura de produtos de limpeza pode ser extremamente perigosa, resultando na formação de compostos químicos tóxicos com efeitos nocivos ao ser humano.


No Brasil, os atendimentos por intoxicação doméstica envolvendo produtos de limpeza cresceram 35 % na última década. Um simples erro ao combinar produtos pode transformar a rotina de faxina em uma emergência respiratória. A combinação entre água sanitária (hipoclorito de sódio - NaClO) e desinfetantes com amônia (NH3), por exemplo, libera gases tóxicos como as cloraminas, a mistura de cloro e amônia, que irritam olhos, garganta e pulmões já nos primeiros minutos de exposição.


Em ambientes pouco ventilados como banheiros, onde usualmente são aplicados, essas misturas podem causar sintomas como asfixia, tosse, tontura, dores no peito e até levar a desmaios. Alguns casos de uso continuo dessas misturas, os aplicadores das misturas apresentaram o sistema respiratório prejudicado, presença de inflamações na pele como dermatites e até agravamento de condições pré-existentes, como asma. Essa prática apresenta maior risco nesse contexto para crianças pequenas, idosos, pessoas com doenças respiratórias e, em menor escala, até animais domésticos. Em janeiro de 2025, uma jovem de 29 anos, moradora de Itapetininga (SP), foi internada após misturar produtos de limpeza que liberaram gases tóxicos. A combinação entre um produto com ácido clorídrico e outro à base de hipoclorito de sódio provocou sintomas graves, como falta de ar, ardência nos olhos, confusão mental e arritmia cardíaca. Ela precisou de suporte médico e monitoramento hospitalar, evidenciando os riscos reais e imediatos de reações químicas domésticas.


Casos como esse reforçam a necessidade de maior conscientização sobre o uso seguro desses produtos. Apesar dos alertas, muitos casos ainda acontecem por falta de informação ou subestimação do perigo. Mas o que os especialistas têm a dizer sobre isso?


Segundo especialistas, a falta de informação e o uso inadequado desses produtos são os principais responsáveis pelos acidentes domésticos que chegam aos hospitais.

“Quando misturados sem conhecimento técnico, produtos de limpeza podem perder a eficácia ou até se tornar perigosos, resultando em intoxicação respiratória, reações cutâneas, danos aos olhos e, em alguns casos, até risco de explosão ou incêndio”(Annayara dos Santos, 2025, Notícias ao Minuto)

O que muitos ignoram é que os produtos de limpeza, embora comuns e de fácil acesso, são compostos por substâncias químicas que, ao serem misturadas, podem reagir entre si e formar compostos perigosos. Essas reações químicas ocorrem de forma espontânea, liberando gases tóxicos ou gerando substâncias instáveis.


Um exemplo clássico, e já citado anteriormente, é a mistura de hipoclorito de sódio (NaClO), encontrado em água sanitária, com produtos que contêm amônia (NH3), como limpadores de piso ou azulejos, ou ácido clorídrico (HCl), como limpadores de metais ou acidificantes de alimentos. Essas combinações podem liberar gás cloro (Cl2) ou cloraminas (NH2Cl, NHCl2), ambos tóxicos ao sistema respiratório. Já a mistura com álcool etílico (etanol) pode formar clorofórmio (CHCl3), um solvente volátil que afeta o sistema nervoso central e órgãos internos como fígado e rins.



Reação do ácido etílico com o hipoclorito de sódio formando clorofórmio
Reação do ácido etílico com o hipoclorito de sódio formando clorofórmio

Reação da amônia o com o hipoclorito de sódio formando monocloramina
Reação da amônia o com o hipoclorito de sódio formando monocloramina


“Essas reações produzem vapores tóxicos que atacam diretamente as mucosas e vias aéreas, além de poderem causar queimaduras químicas e intoxicações severas”(Maurício Yonamine, 2025, O Estado de S. Paulo)

Essas reações, embora muitas vezes silenciosas, são responsáveis por diversos casos de intoxicação hospitalar no Brasil. A ausência de odor forte ou espuma aparente não significa que a substância formada seja inofensiva. Pelo contrário, muitos dos compostos mais perigosos são incolores e difíceis de perceber a olho nu.


Evitar misturas perigosas começa com informação. E, nesse caso, entender as instruções do rótulo pode literalmente salvar vidas. Diante dos riscos apresentados, é fundamental adotar práticas seguras no uso de produtos de limpeza. A primeira e mais importante orientação é ler atentamente o rótulo de cada produto antes do uso pois as embalagens contêm orientações importantes sobre aplicação, diluição, riscos e advertências, como “não misturar com outros produtos”.


Além disso, sempre que for realizar a limpeza, é essencial manter os ambientes bem ventilados, tendo em vista que a circulação de ar ajuda a dissipar vapores que, em locais fechados, podem se concentrar e causar intoxicações. Outro ponto importante é o uso de equipamentos de proteção, como luvas, máscaras e óculos de segurança, já que eles reduzem o contato direto com as substâncias químicas e protegem contra respingos ou inalação de vapores irritantes.


A armazenagem correta dos produtos também é de extrema importância: devem ser mantidos longe do alcance de crianças e animais, preferencialmente em locais frescos, secos e ventilados, longe de fontes de calor ou luz solar direta. Por fim, é importante ressaltar que utilizar um produto de cada vez não só é mais seguro, como geralmente suficiente para garantir a eficácia da limpeza.


A desinformação, aliada à crença de que misturar produtos aumenta a eficácia da limpeza, tem colocado muitas vidas em risco. Produtos de limpeza são amplamente disponíveis e vendidos em qualquer esquina, com rótulos frequentemente ignorados. Essa acessibilidade cria a falsa sensação de segurança: “Se vende no mercado, não pode ser tão perigoso.” O raciocínio falho e com engano facilita experimentos domésticos com reações químicas potencialmente letais, reforçando a necessidade de campanhas educativas e rotulagem mais clara. Promover o uso consciente é, portanto, uma medida urgente para proteger a saúde dentro de casa, prevenir acidentes e transformar a limpeza do lar em um hábito seguro, e não em uma ameaça invisível.



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