A memória como forma de resistência: patrimônio cultural e identidade afro-brasileira

A memória coletiva é uma das principais formas de resistência de um povo, especialmente quando sua história foi marcada pela exclusão e pelo silenciamento. No caso da população afro-brasileira, preservar tradições, crenças e expressões culturais significa afirmar uma identidade que o sistema escravista tentou apagar. O patrimônio cultural afro-brasileiro, tanto material quanto imaterial, tornou-se um instrumento de luta contra o racismo e pela valorização da herança africana na formação do Brasil.

A valorização da memória afro-brasileira se manifesta em espaços como os terreiros de candomblé, as festas religiosas, a capoeira e o samba, que preservam saberes ancestrais e resistem à homogeneização cultural. Esses elementos mantêm viva a história de um povo que transformou dor em expressão e exclusão em identidade. O filme Cafundó (2005), dirigido por Paulo Betti e Clóvis Bueno, retrata essa força simbólica ao narrar a vida de João de Camargo, ex-escravizado que mistura fé africana e catolicismo, mostrando como a memória cultural é também uma forma de libertação espiritual e

social.

Dessa forma, a memória deve ser sim a forma de resistência na qual o povo que fez tanto ao moldar o Brasil deve adotar para que não haja o esquecimento e, acima de tudo, o preconceito que pressiona e questiona a importância dessa cultura para a composição e estrutura brasileira. Mesmo assim, não é apenas o povo africano que precisa resistir, mas sim a sociedade como um todo, dos órgãos do baixo ao alto escalão, que poderiam promover a inclusão e a retomada das raízes culturais, relembrando uma das vertentes que originaram o brasileiro.

Ademais, o rastro de destruição que o preconceito proveniente dos povos europeus que colonizaram o Brasil perdura nos grandes setores da sociedade até os dias de hoje, o que força uma necessidade de reflexão na população não-negra, na qual deve contribuir para que não haja o apagão de uma cultura que molda tanto o espírito de ser brasileiro como a forma na qual a cultura do país evolui ao longo do tempo.