top of page
  • Instagram

Os caminhos para as Américas

set 4

3 min de leitura

0

4

0

Para vários de nós, não é nenhum mistério, que o México, geograficamente falando, pertence à América do norte, logo todo mexicano é norte-americano também. Essa afirmativa pode levar alguns

estado-unidenses a uma confusão total, fazendo a mente entrar em parafuso, pois, no pensamento deles, “they are America”. Surpreendendo zero pessoas, todos somos americanos, desde o Canada, passando por Porto Rico e Peru e até a Cuba, afinal estamos no mesmo grande continente que carrega o nome do carinha, vulgo Americo Vespúcio, que descobriu que o novo mundo não era as Índias, mas era, agora, a América.


Me lembro de umas aulas na era pós-pandemia sobre as enormes diferenças entre a América Anglo- Saxônica e a América Latina. Essa diferença pode ser explicada, em suma, a partir dos meios que os colonizadores trataram as suas ex-colônias, seja ignorando que ela existe e deixando ao tempo, como aconteceu no Estados Unidos, ou desfiando até o último traço de terra e intervindo em qualquer aspecto da vida da colônia, da mesma forma que foi conosco e com nossos hermanos. E mesmo com a diferenças em relação aos dobramentos e desdobramentos históricos, à construção cultural e à exportação e importação de hábitos, palavras, práticas, comidas e roupas, ainda somos americanos. O som de uma flauta peruana e o tango argentino não se parecem em nada, assim como a costura colombiana se difere totalmente com a mexicana.


Digo e repito: entre todas as Américas, a Latina é mais bonita. A mescla dos elementos e tradições indígenas e estrangeiras levou a festa de cores que toda a cultura latina é. A resistência de tal caráter autóctone é uma das bases para essa caixa de confetes. Eles trouxeram atividades e crenças místicas que inundam a fala e pensamento popular, seja por lendas ou festivais, formando o sincretismo religioso marcante no catolicismo dos latinos. Ou seja, essa magia está presente nestas terras, e não apenas ela, mas também a natureza e a vida natural gritante, desde desertos, pradarias, montanhas, savanas e florestas, tornando daqui o habitat de animais únicos e intrigantes, nesses acres da América Latina que produzem alimentos para si e para o mundo. O milho, a carne, a soja, o trigo, o açúcar e as milhares de frutas vêm de nosso chão. A terra daqui é gentil com seu povo (por mais que não estejamos sendo bondosos da mesma forma), resultando numa gama de sabores e receitas que passam de gerações em gerações, tratando-se de pratos saborosos aos olhos e reconfortantes na boca. E tudo isso sendo apenas uma fração da presença originária na América Latina, podendo se estender a outros fóruns, sem contar com a nossa sublime e colérica herança africana dos velhos reinos de Mali e Gana e dos colonizadores espanhóis e portugueses, junto aos imigrantes asiáticos e europeus.


Todos os aspectos de beleza, vida, tradição, artesanato e sabor parecem apontar para cá. Tenho muito orgulho de ser latina e poder viver em uma pequena fração de toda cultura latino-americana (imagino que todos nós temos vontade de conhecer outras porcentagens também). Mas alguns podem argumentar que a América Anglo-Saxônica também teve seus indígenas, seus colonizadores e seus imigrantes, então as duas Américas têm a mesma riqueza cultural. A resposta é sim, mas ao mesmo tempo é não. É inegável que as áreas do norte sobre domínio franco-inglês sofreram com uma mistura cultural com os povos nativos quase nula. Todo o imaginário sobre esses povos ficou nos filmes da Disney, basicamente nem existe mais ameríndios na região Anglo-Saxônica, sendo que os poucos que ainda se habituam por lá são canadenses. É isso, os Estados Unidos nunca terão uma culinária igual a que se tem na América Latina.


Apesar de tudo isso, é um pesar saber que tanta alegria, história, cultura e riqueza estão acorrentados a

uma condição capenga com governos ditatoriais ou ineficientes, junto às enfermidades e dores crônicas sociais gravíssimas. Afinal, os países latinos ainda estão em desenvolvimento, a jornada é longa, somos um povo sem pernas que caminha e realmente devemos acabar essa trajetória para dar uma condição digna a uma sociedade que já passou de tudo em suas andanças. A reivindicação e o saber são as melhores (e talvez únicas) estradas para oferecermos uma qualidade de vida quase tão solene quanto nossa cultura.

Comentários

Share Your ThoughtsBe the first to write a comment.
bottom of page