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Omelete de Arroz

abr 9

3 min de leitura

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Existe o Ocidente e existe o Oriente, ambos em um só mundo. Eu os vejo como irmãos gêmeos, que de tão diferentes e alheios um ao outro, decidiram se separar com seu próprio muro de Berlim, o qual chamaram meridiano de Greenwich. Mas com toda certeza o Ocidente é o mais velho, o primogênito de três segundos de diferença. Ele dita e governa o mundo, talvez o fato de eu ter a ousadia de pensar que o Ocidente é o periélio do mundo já é uma prova que possivelmente ele seja realmente dominante. Contudo, o pequeno Oriente já não é tão franzino assim, já que agora, ele seja um emergente esfregando as mãos, só esperando para puxar o tapete vermelho de seu irmão e pegar sua coroa, pois o Ocidente é gasto e, seguindo as leis da roda fortuna, ele há de cair também. E, ao contrário do que alguns sonham, não seria uma libertação do capitalismo e da Igreja Católica, seria só uma mudança de diretor, mas com o Buda.

Enquanto os irmãos brigam, eu, cidadã deste mundo globalizado sem fronteiras, aproveito o melhor deles. E acho que é isso que os astutos andam fazendo. As tecnologias e os produtos do irmão Oriente são invejáveis, sem contar com seu código de conduta com a honra e os familiares que o irmão Ocidente deixa a desejar, mas gosto da paz e do liberalismo que ele tanto me fornece. Vivemos em suas terras, isso é um fato, temos amostras isoladas do que seu irmão seria. É como cheirar aqueles papeizinhos que nos entregam na frente das lojas de boutiques, uns são muito bons e queremos saber mais, outros empreguiçam na roupa e esquecem de sair, e assim acabamos por avisar ao nosso próximo: “Não vá muito perto, não. Pois é estranho e bem noiado.” Contudo, da mesma forma, tem aqueles frascos que acabamos por nunca nem sentir o cheiro, ficando só dentro da loja, e apenas quem entra e explora acaba por encontrá-lo.

Mas, aí que entra o ‘x’ da questão: e se os que habitam nas terras do irmão Oriente, também não tem noção da complexidade e variedade de cheiros, vidrarias, colônias e perfumes que o irmão Ocidente tem? Assim como não sabemos direito nem diferenciar a escrita de um chines, japonês e coreano, imagina eles de nós? E se todos nós formos iguais diante deles, todos com olhos arregalados? Mal conhecemos o Oriente, podemos distinguir de maneira muito porca as culturas, então deveria ser zero surpresa ao imaginar que eles também não saibam diferenciar um peruano com um colombiano, um argentino e um brasileiro. Caso alguma dúvida ainda resta, eu mando a minha última cartada, vossa Excelência: um episódio de uma produção japonesa (para mim, que não estou acostumada, essas animações são explosões de cultura asiática na minha cara) apresentou uma personagem que amava comida ocidental e mostrou uns dos pratos “ocidentais”, entre várias aspas. Tenho certeza absoluta que todos nós, como ocidentais tradicionais nos quais a ocidentalização corre por nossas veias, já comemos várias vezes o famoso e nada raro omelete de arroz com porco empanado.

Houve um big bang na minha mente, universos de perguntas brotavam nela. A primeira coisa que eu considerei foi o quão ruim deve ser um omelete de arroz e em que lugar do Ocidente que isso era um prato típico? Nada fazia sentido. Prato ocidental? Mas qual parte do ocidente, é muito país, é muito diferente, como pode ter um prato ocidental e ainda por cima que fosse um omelete de arroz. Eu tive que pausar e voltar com a dublagem original em japonês para garantir que não foi uma dublagem mal feita, e não, era isso mesmo: omelete de arroz. Depois do choque, eu pensei que omeletes não deviam ser comuns para o Oriente (mas na verdade é sim), no fim parecia mais Oriental do que essencialmente Ocidental. Mas não julgo, eles devem ficar horrorizados com as nossas representações falsas da comida oriental, que de tão ocidental, não representa nenhum país. Os mal tratos que os brasileiros fazem com a comida japonesa é coisa séria, não vejo como ainda não declararam guerra. Então, no fim eles só estão agindo da mesma forma que agimos. Talvez o que tenha de diferente entre os gêmeos seja o povo e somente isso. Para um mundo globalizado, sabemos muito pouco do outro meridiano. Ainda existe uma barreira aí, nem todas as distâncias foram superadas. Ou só talvez, essa união anda criando umas anomalias que não é ocidental nem oriental, tipo o bendito omelete de arroz.

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