top of page

Ojo Iwaju

abr 9

3 min de leitura

0

0

0

Na calada da noite, o evento iria começar: a caçada de sua tribo pelo deserto de Tulo Tulo, na faixa do Sahel. As caçadas se realizavam anualmente, para testar a aptidão e habilidades de sobrevivência dos jovens da tribo. Caçavam não um animal, mas sim fragmentos de um mineral, a gipsita, abundante no deserto mas que, à noite, somente olhos atentos poderiam avistar. No entanto, o perigo de perder-se ou de ser atacado sempre estaria presente no teste, demandando a mais alta atenção e senso de conservação, além de inteligência e agilidade por parte dos jovens. O jovem N’golo tinha passado a vida toda esperando por esse momento. Ouvira contos de seu pai, de seus tios, primos e avós, mal podendo esperar para retornar à aldeia sendo oficialmente um homem, com a pequena pedra reluzente em mãos. Anos antes da morte de seu avô, tinha preparado com ele uma lança, escolhendo cuidadosamente a madeira, tratando-a, afiando-a e decorando-a com pequenas conchas, deixadas por sua mãe, que davam significado a seu nome. Um escudo, usado pelo seu pai, ainda que tenha sido desgastado em várias batalhas, faria parte do arsenal do jovem. Por último, levaria um punhal, cujo projeto havia sido iniciado com seu avô, mas somente concluído durante os rituais póstumos do velho. N’golo se sentia pronto, confiante, querendo fazer jus ao histórico de sua família. Chegando o dia, N’golo e os demais jovens foram chegando à entrada da aldeia. O portão, rodeado de palmeiras, ficava cada vez mais assustador à medida que a Lua subia no céu. Chegando a umbra, tudo estava escuro, e um instrutor começou a falar. Assim que seus gritos chegaram aos ouvidos de N’golo, sua confiança se dissipou, seus ombros encolheram e desejava estar em qualquer lugar menos aquele. Olhou para os lados e viu que os demais não foram afetados pelo discurso. Decidiu se recompor e ouvir os avisos do instrutor. Desgraçadamente, em seu pânico, havia deixado de ouvir as palavras do guerreiro que agora, estava se retirando. Mais medos se instalaram na cabeça de N’golo. Um a um, os jovens foram chamados para saírem e iniciarem a caçada. Havia chegado a hora de N’golo, a que ele tanto tinha esperado todos esses anos; respirou fundo e saiu. O deserto estava frio, e os ventos fortes vinham carregados de areia, impedindo quase completamente a visão e causando um grande desconforto em cada um dos jovens participantes. Sabendo razoavelmente a direção que deveria seguir, N’golo tentava avançar, mas sentia que os revoltosos ares do deserto faziam-lhe andar em círculos. Sentia-se cada vez mais perdido, com a tempestade arenosa se intensificando cada vez mais. Não tinha mais qualquer senso de para onde estava indo, e o senso de ansiedade que tivera antes de sair colapsava sobre ele. Tropeçando sobre as moventes dunas, se deparou com um ponto ascendente. Não sabia se era uma montanha ou uma duna que em breve desapareceria, mas decidiu escalá-la de qualquer forma. No topo, sentiu a areia se dissipar e tudo ficou mais claro. Por cima da tormenta, via a luz de sua vila, das vilas vizinhas e todas as estrelas que iluminavam o deserto durante a noite. Cada uma delas, cada simbologia que lhes era atribuída pelos anciões da tribo, cada brilho no céu iluminava o destino de N’golo. Ele desceu o monte, sabendo exatamente para onde ir. Encontrou um fragmento enquanto seguia a Oeste, procurando as jazidas que ficavam nas proximidades da vila. Era um dos maiores e mais brilhantes que já tinha visto. Fez o caminho de volta e regressou para sua vila, com a honra de um adulto e o espírito de um heroi.

Related Posts

Comentários

Share Your ThoughtsBe the first to write a comment.
  • Instagram

©2025 por Pega Visão. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page