Modesta revolução
- Clara Lopes e Laura Silva - MC
- 2 de jul.
- 2 min de leitura
Mais uma vez, o céu era tingido pela fumaça negra advinda das fábricas. A produção acontecia incessantemente, sem descanso ou trégua. Diante dos meus olhos, através dos anos, o mundo foi transformado pelo homem. Começou com um simples trem a vapor, uma grande inovação, mas cresceu até que o industrial se tornou tecnológico demais para que pudesse ser contido.
As lembranças de uma época distante povoavam minha mente, lembranças que eu
não havia vivido, apenas lido, ouvido e imaginado. O trabalho exaustivo por um pedaço de pão, os riscos aos que eram expostas as crianças vulneráveis, a injustiça salarial e as condições precárias. A sujeira,a imprevisibilidade das máquinas que
poderiam ser perigosas assassinas caso mal projetadas, a podridão que era grande
precursora de doenças. As fábricas atraiam pessoas desesperadas por uma vida
melhor; prometiam o paraíso, mas não cumpriam com sua palavra. A migração foi
intensa, resultando em mais fome, aglomeração e uma infraestrutura mal planejada.
Quanto mais o tempo passava, mais as indústrias e as máquinas evoluíram, trazendo mais conforto e dignidade à humanidade. Ao menos é o que aparenta, mas pouco se diz sobre aqueles que foram enganados pelas falsas promessas de prosperidade ou sobre as florestas desmatadas e o aumento do efeito estufa. E quanto aos animais que perderam seu habitat, a poluição dos mares, a morte lenta e dolorosa da natureza, não se faz alarde. A humanidade, em seu egoísmo, caminha para a autodestruição.
Os prédios substituíram as matas, a eletricidade, os rios, e o asfalto é a nova terra.
Novamente, meus pulmões recebem a fumaça em vez do ar puro, e a amarga lembrança de como tudo começou atormenta-me a alma. As pessoas vão de um lugar a outro sem pausa, agindo como se fossem as máquinas que lutaram para construir. De tanto trabalhar com elas e por elas, o homem achou que poderia ser como ela e assim começou a agir. O sentido da vida foi compreendido como produtividade e instantaneidade, de forma que a vida não é mais vivida, mas percorrida no modo automático.
Todas essas mudanças, sejam boas ou ruins, transformaram para sempre o mundo
inteiro, e não se sabe quanto mais poderá alterá-lo. Uma modesta revolução, um simples trem a vapor que conduziu o mundo ao digital e artificial, causando rupturas e ligações que seriam inimagináveis há poucos séculos. O mundo está em constante evolução, mas quanto isso custará, ninguém sabe. A única esperança, porém, que ainda guardo, é que as futuras gerações possam contemplar o céu azul,
e não apenas uma fumaça cinzenta acima das suas cabeças.
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