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Made in Brazil

ago 21

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O parque municipal foi um elemento marcante da minha infância. Algumas vezes, me davam a escolha entre o zoológico e o parque, e eu sempre acabava escolhendo o parque. Posso dizer que andei em todos aqueles brinquedos mais de uma vez, sem contar as milhares de voltas de burrico. Tudo é incrível aos olhos de uma criança. Hoje penso que, na verdade, era uma estratégia dos meus pais para esgotar a minha energia nos finais de semana. Recentemente, voltei lá, pois me contaram que haveria uma exposição de carros de décadas passadas e de outros itens antigos.


Sempre gostei de carros, símbolos de poder e luxo. Eu os vejo como os cavalos eram para os persas ou romanos: muito mais do que um meio de transporte ou trabalho, mas um sinal claro de boa fortuna e beleza. Eu gostaria realmente de poder virar e dizer: “Ah, sim! Este é claramente um Mustang V6 conversível dos anos 70.”, porém nunca tive a proeza de conseguir diferenciar todos os modelos. Gosto de ver as marcas; essas são mais reconhecíveis para mim, como Porsche (uma prova do paralelismo entre cavalos e carros), a italiana Fiat (cujo símbolo atual se assemelha muito ao mais antigo) e a inesquecível Gurgel Motores.


Não se espante caso não conheça esta última marca. Até pouco tempo atrás, a Gurgel estava soterrada na memória dos meus pais. Eles viram a empresa ser criada em 1969 e ter uma vida breve, com seu auge nos anos 1980 e declínio nos anos 1990. Acontece que os fatos são dois: a Gurgel Motores tratava-se de uma indústria automobilística nacional e, em segundo lugar, o capitalismo é mesmo selvagem. A marca de J. Augusto Gurgel morreu de uma doença grave conhecida popularmente como “falência”. Especialistas indicam que as empresas nacionais são as mais suscetíveis a essa enfermidade, que apresenta altas taxas de incidência.


Penso que é triste ver esses acontecimentos, afinal, grande parte das empresas que agonizam são de pequeno a médio porte, pertencentes a famílias comuns e que empregavam tantas outras pessoas. Seria um erro dizer (como alguns dizem) que, por ser nacional, é ruim. Essa é uma ideia que não me pertence, pois a nacionalidade de algo não deveria mudar a qualidade e a visão que temos sobre ele. Onde está a lógica em algo se tornar automaticamente bom por ser dos Estados Unidos ou de outros países desenvolvidos? Filmes, séries, arte, livros, roupas e marcas nacionais muitas vezes recebem olhares desconfiados quando exibem o rótulo “Produção Nacional” com a bandeirinha verde e amarela ao lado. Por outro lado, quando algum produto tem “Made In” seguido pelo nome de um país que não seja a China, nossos olhos até se arregalam, afinal, está em nossas mãos um produto, em tese, de boa qualidade, produção e material.


Mas nem tudo é assim. O complexo de vira-lata pode ser superado. Em paralelo à Gurgel Motores, a marca nacional Puma também faliu nos anos 1990 (começo a pensar que essa foi uma década maldita para a indústria automobilística), mas adivinhe só a surpresa quando, em 2013, a Puma Automóveis Ltda. ressurge das cinzas, volta ao mercado brasileiro e alcança até o da África do Sul. Os produtos locais e nacionais ainda podem ganhar muito espaço na economia; com políticas e investimentos certos e, principalmente, conquistando o público brasileiro, deixaremos o cachorro caramelo para andar de Puma.


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