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La Danza de los Voladores

set 4

3 min de leitura

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Javier sempre se sentiu como um estranho em sua própria terra. Cresceu na Cidade do México, rodeado por cimento e caos urbano, mas alguma coisa dentro dele clamava por um sentido maior, uma conexão que nunca soube definir e nunca conseguiu encontrar. A morte de seu avô, José, um homem que sempre fora um mistério em sua vida, trouxe à tona sentimentos e dúvidas que ele não sabia como resolver. Foi quando herdou o caderno antigo do avô que toda a sua vida se transformou.


As páginas do caderno, amareladas e frágeis, estavam cheias de anotações sobre um ritual chamado "La Danza de los Voladores". O avô de Javier havia escrito sobre a tradição indígena dos Totonacas com uma paixão que Javier não tinha ideia que existia nele. Descrições detalhadas do ritual, desenhos dos dançarinos rodando no ar e textos espirituais preenchiam as páginas. Havia algo hipnotizante naquelas palavras, como se estivessem chamando Javier para viver aquilo como jamais tinha imaginado.


Por impulso, tomado por uma curiosidade quase desesperada, Javier decidiu que precisava entender mais. Deixou sua vida onde morava, comprou uma passagem de ônibus e seguiu viagem para Papantla, uma pequena cidade em Veracruz, onde o ritual dos Voladores ainda era praticado. Chegando lá, sentiu que foi instantaneamente transportado para um mundo completamente diferente. As ruas estreitas, as montanhas verdes ao redor, o ritmo calmo que os moradores viviam a vida, tudo contrastava com a agitação da cidade que ele conhecia.


Foi perguntando de porta em porta que Javier finalmente encontrou Don Daniel, um dos últimos mestres dos Voladores. O velhinho vivia em uma casa simples, cercada por árvores e com vista para as montanhas. Quando Javier se apresentou, mencionando e mostrando o caderno de seu avô, Don Daniel apenas balançou a cabeça com um sentido de confirmação, como se já soubesse que aquele momento chegaria.


"Se você quer aprender, tem que sentir. Não adianta entender com a cabeça, se não compreender com o coração", disse Don Daniel com um olhar que Javier sentiu penetrando em sua alma.


Nos dias seguintes, Javier se dedicou a aprender tudo o que podia sobre o ritual. Don Daniel o explicou sobre os quatro elementos que guiavam a dança: a Terra, o Ar, o Fogo e a Água. Cada passo da dança, cada movimento, tinha um sentimento profundo, uma conexão com o transcendente. Javier aprendeu a subir no mastro, a se equilibrar na pequena plataforma, a sentir o vento e a ouvir a música que guiava o ritmo do ritual.


A cada dia que passava, Javier se sentia conectado com algo maior que ele mesmo. Mas também sentia o peso da responsabilidade. Sabia que, para honrar seu avô e a tradição, teria que participar do ritual, se entregar completamente.

O dia da Grande Dança chegou, e Javier estava pronto. Vestido com as roupas tradicionais dos Voladores, subiu no mastro sagrado ao lado de outros quatro homens. A multidão se reuniu ao redor, e Javier sentiu uma mistura de nervosismo e excitação. O coração batia rápido, mas ele sabia que não estava sozinho. Sentia a presença de seu avô, dos ancestrais, dos deuses que haviam guiado aquele povo por gerações.


A música começou, e Javier deu o primeiro passo na dança. Com cada giro, sentia o mundo ao seu redor desaparecer, até que só restavam ele, o céu e a presença de seu avô. Quando chegou o momento de se lançar no ar, não pensou duas vezes. Saltou, amarrado pela corda, e começou a girar lentamente enquanto caía. O vento o abraçou, e Javier fechou os olhos, sentindo uma paz profunda, uma conexão que nunca havia experimentado antes.


Enquanto girava no ar, Javier compreendeu o que seu avô tentou transmitir em seu caderno. A dança não era apenas um ritual, era uma forma de se conectar com o universo, de encontrar seu lugar no mundo. Ao tocar o chão novamente, se sentiu diferente, como se uma parte dele que sempre esteve perdida tivesse finalmente encontrou o caminho para se reencontrar.


Quando voltou à Cidade do México, Javier sabia que sua vida jamais seria a mesma. Ele trouxe mais do que lembranças de Papantla, trouxe uma nova visão de si mesmo e de sua herança. E, de alguma forma, sabia que, onde quer que estivesse, o espírito dos Voladores, e o sentimento de seu avô, sempre o acompanhariam.

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