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Insanidade

set 16

5 min de leitura

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Já estava cansado de correr naquele labirinto infernal. As paredes se fechavam, o teto ficava cada vez mais baixo e os intrincados desenhos de padrões engastados nas paredes pareciam repetir-se a cada passo que dava. Quando sua lanterna falhava e ele perdia visibilidade, sentia-se observado, com medo do que poderia estar preso na estrutura junto a ele. Receoso, atravessou apressadamente pavilhões, corredores e encruzilhadas, enquanto tentava manter a calma, algo cada vez mais difícil. A respiração estava cortada e começou a tropeçar em algumas rochas e fragmentos de artefatos que ali estavam largados. Com a queda, sua lanterna falhou pela última vez, e sua única fonte de luz se dissipou. Tateando pelo chão, agora uma criatura cega e insignificante, percebeu que tinha chegado a um beco sem saída. Perdido, sentiu a temperatura da câmara cair. Ele já não era a única coisa que respirava dentro da pirâmide. O doutor era um prodígio do mundo arqueológico. Nascido num berço de ouro, desde pequeno se interessava pela área, e rapidamente desenvolveu seu conhecimento juntamente a sua fama e a uma insaciável ambição, tomando gosto pela fama e atenção que recebia. Ganhava tudo que queria, sendo colocado por seus pais na melhor escola com os melhores professores, dando ênfase a seus estudos e deixando de lado a formação de qualquer vínculo com seus companheiros de aula, crendo ter um dom que lhe separaria daqueles que achava não merecerem estarem ali. Tratava com desprezo tudo que não lhe beijasse os pés e gritasse seu nome, mas isso não impediu a mídia de desenvolver um grande afeto pelo “novo gênio” da geração. Antes de atingir a maioridade já era formado em uma das universidades de maior prestígio do mundo e tinha realizado dois doutorados (além de outras atividades acadêmicas), tendo grande orgulho e necessidade de lembrar isso a todos sempre que possível, apesar de ter se aproveitado de muitas pessoas para obter dados e fazer pesquisas para alcançar essa meta. Dizia ter desenvolvido um revolucionário método para analisar sítios recém descobertos, mas preferia mantê-lo em segredo, para evitar que outras pessoas pusessem mão no que potencialmente seria mais fama e lucro para si. Estava cogitando realizar seu terceiro doutorado, apenas para se entreter, e, enquanto pensava em quais professores iria pagar para comporem sua banca, recebeu uma chamada. Poucas palavras existem para descrever o nível de euforia que sentiu quando um de seus “assistentes” lhe contou que haviam descoberto uma nova pirâmide maia na região de Campeche, no México. Sabia que o dia dos mortos estava por chegar, e que isso apenas atrairia mais renome para sua descoberta, decidindo embarcar de imediato em seu jato particular para o local. Chegando em Monterrey, se hospedou no Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores, onde ansiosamente aguardou o dia seguinte para iniciar suas explorações. Assim que amanheceu, pegou o primeiro trem para as proximidades do sítio e enquanto viajava e ordenou que organizassem, de imediato, uma equipe de poucos agricultores e garimpeiros da região, escolhidos para que não tivesse que pagar um salário decente ou dividir crédito com outros arqueólogos. Usando seus trabalhadores como guias, pensava que se garantiria no pouco de Náhuatl que sabia e partiu para o sítio com sua equipe. Era o segundo dia de novembro. Seus lacaios já lhe tinham guiado por quase todo o caminho, quando pararam em uma cachoeira para beber água. Naquele momento, o doutor ouviu um farfalhar nas folhas da densa mata que os rodeava. Uma mancha escura saltou para fora das matas e atacou dois de seus guias. O puma perseguiu os que tentaram fugir, matando um por um até se deparar diante do doutor e de um assistente. Percebendo uma pequena abertura no paredão de onde a água descia, decidiu empurrar o assistente que havia sobrevivido para distrair o animal e entrar sem ser perseguido, julgando suas futuras descobertas serem mais importantes que a vida do pobre homem. Enquanto o puma rasgava o homem em pedaços, o doutor conseguiu entrar na cachoeira, e, ainda assustado com a ameaça à sua preciosa vida, se encantou com o que tinha descoberto: um longo corredor, iluminado naturalmente pela luz do Sol, que já iniciava sua descida, ricamente decorado por murais maias engravados em pedra. Estava maravilhado e decidiu seguir o caminho do corredor para encontrar onde a nova descoberta lhe levaria. Após o que lhe pareceram horas, viu o fim das paredes paralelas e a passagem revelou que tinha chegado na pirâmide que tanto antecipara ver. O pôr do sol se aproximava, mas ainda assim pôde ver que o monumento era maior do que qualquer outro que havia visto, e, ainda que parcialmente consumido pela vegetação, a pirâmide escalonada estava completamente preservada. Maravilhado com o que via, decidiu procurar a entrada e, tendo encontrado-a, adentrou o monumento. Naquele exato momento, o sol se alinhou com o altar no topo da estrutura. Estava perplexo: nunca havia visto um interior tão complexo em qualquer outra pirâmide maia que tinha investigado; na verdade, em qualquer monumento que já tinha visto. As paredes eram vermelhas e detalhes em ouro, murais com alguns escritos em Náhuatl sobre um portal para outro mundo, mas a maioria estava em um língua que não conhecia, e os desenhos não representavam nenhum evento, rei ou deus que tinha estudado. Fascinado, avançou para as regiões mais profundas até que, pensando ter alcançado o meio, se deparou com uma câmara dourada. Paineis dourados com pedras preciosas estavam conectados a uma porta por tubos de um material que desconhecia, e um rio negro, feito do que pensava ser petróleo, cruzava o centro da sala. Sem querer, tocou uma das pedras, e a porta se abriu, aumentou o brilho de sua lanterna e decidiu avançar. Ao atravessar a passagem, a porta se fechou atrás dele e, agora mais preocupado que fascinado, começou a andar. Demorou pouco tempo para se dar conta que estava perdido. Tinha entrado no que pensava ser um labirinto, com passagens que se entrecruzam e cortavam entre si. Quanto mais andava, maior era o receio de que nunca mais sairia de lá. Não, não podia deixar que esses pensamentos pusessem um fim em sua brilhante carreira. Esse pensamento lhe motivou a seguir buscando a saída, mas não o suficiente. Sentia as se fecharem e o teto ficando cada vez mais baixo. Desesperado, atravessou apressadamente pavilhões, corredores e encruzilhadas, enquanto tentava manter a calma. Sua lanterna se apagou e, tateando pelo chão, percebeu que tinha chegado a um beco sem saída. Perdido, sentiu a temperatura da câmara cair. Pensou que era outro puma, que havia entrado na pirâmide e encontrado-o. No entanto, a criatura começou a estalar e ele percebeu que era uma criatura incolor, esguia e alta, similar a uma sombra. A criatura se aproximou, fez mais alguns estalidos e o doutor sentiu o mundo fechar-se à sua volta

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