Há algo mais do que passos rápidos e conjuntos de vozes em Buenos Aires. Há um
silêncio raro que se encontra em becos, entre ruas, mas também no meio de conversas em
restaurantes. Essa quietude não é apenas ausência de sons, mas uma fusão invisível entre
passado e presente, memória e esquecimento.
Ao caminhar pela cidade, é possível ouvir histórias de tempos distantes, como uma
voz ao longe que nunca se cala. As paredes fervilham com nomes, datas e pensamentos
de um país que outrora lutou pela sua identidade, um lugar de crueldade e medo, mas que
demonstra ter feito as pazes com a sua amnésia. A Argentina hoje é um lugar onde as
pessoas dançam tango com paixão e olham para o futuro com incerteza.
A oposição, às vezes, pode dizer que o argentino gostaria de esquecer o peso que
carrega. Nos próximos anos, a memória “perdida” será mencionada na forma de símbolos,
em dias especiais. Entretanto, no dia a dia, as pessoas parecem fazer um esforço coletivo
para avançar, sem olhar para trás por muito tempo.
Buenos Aires é uma cidade com um passado pesado e perdido. Ao contrário de outros
locais que celebram e desafiam a memória, aqui parece haver um sussurro, uma voz baixa
na música da cidade. A questão permanece: por quanto tempo perdurará esse silêncio?