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EL PESO DE LAS MONTAÑAS

há 2 dias

3 min de leitura

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A neblina matinal subia lentamente pelos Andes, engolindo as casas que se empilhavam nas encostas de pequena cidade no interior da Colômbia. Aos pés da montanha, a vida seguia o seu curso, marcada por uma calma praticamente forçada. No entanto, dentro de cada casa, nos corredores da pequena escola e nas mesas do mercado central, havia algo no ar que não se podia tocar, mas que todos sentiam: a tensão que sempre acompanha os que conhecem o peso da montanha.


Julia, uma jovem de 16 anos, sabia o que era viver sob o olhar da montanha. Desde pequena, ouvia as histórias dos mais velhos sobre as erupções passadas do Nevado del Ruiz, um vulcão dormente que, mesmo em silêncio, dominava os pensamentos e conversas de sua cidade. Ela também ouvia, com curiosidade e medo, as histórias de violência que marcavam os vales ao redor, onde o conflito armado persistia, mesmo que de forma invisível.


Os dias de Julia eram divididos entre ajudar sua mãe no mercado, vendendo frutas que chegavam das fazendas vizinhas, e ir à escola, onde se sentia parte de algo maior. Nas aulas de história, aprendeu sobre a colonização espanhola, a independência, e também sobre a violência que havia devastado o país em tempos recentes, seriam esses os conflitos entre governo, guerrilhas e paramilitares. Esses eram temas distantes, pensava. Eram de outras regiões, outras épocas. Mas tudo mudou no dia em que os homens da montanha desceram até sua cidadezinha.


Era uma tarde quente, e Julia voltava do mercado com sua mãe, empurrando um carrinho de mão cheio de bananas. No horizonte, viu algo que nunca esperava ver: caminhonetes subindo a estrada, poeira subindo atrás delas. Homens armados. Guerrilheiros.


"Não pode ser..." sussurrou sua mãe, ao lado dela. Os olhos de ambas se encontraram, e, naquele momento, Julia soube que algo errado estava acontecendo.


Os homens, carregados de fuzis e roupas camufladas, invadiram a praça principal. Pegaram quem encontraram pela frente, exigindo silêncio e obediência. Ninguém se atreveu a desafiá-los. Os olhares duros e as armas eram uma lembrança cruel de que, apesar de tudo o que aprenderam na escola, a história não tinha terminado.


"Vamos levar alguns jovens", disse o líder do grupo, um homem de rosto coberto. "Precisamos de mãos fortes para trabalhar."


Julia congelou. Em sua garganta surgiu um nó instantaneamente. Ela sabia que, em sua juventude, estava no centro da mira daqueles homens. Ao seu lado, sua mãe apertou sua mão, um gesto quase imperceptível, mas cheio de desespero.


"Eu não vou deixar que te levem", disse ela, com os olhos fixos na multidão.


Os minutos que se seguiram pareceram uma eternidade. No fim, os homens escolheram três jovens. Um deles era o irmão de uma amiga de Julia. Ele foi puxado para dentro de uma das caminhonetes, chorando em um silêncio quase desesperador. As mães gritavam, mas ninguém ousou desafiar os guerreiros da montanha. 


Naquela noite, as luzes da cidade estavam apagadas. O silêncio era absoluto, mas Julia sabia que a montanha estava sempre ali, vigilante. Ela foi para a cama pensando no que teria acontecido se a sorte não tivesse estado ao seu lado. Sabia que a vida jamais seria a mesma. Os ecos da violência haviam descido das montanhas e a envolvido, tornando tudo mais pesado, mais sombrio.


Nos dias que seguiram, o medo se instalou de forma permanente nas conversas e nos olhares. Julia percebeu que a história da Colômbia não era feita apenas de livros ou de professores, mas de vidas. E, como sua mãe sempre dizia, o peso da montanha era algo que todos carregavam, mesmo quando não a viam.


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