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As Sequelas da Revolução Industrial na Vida do Trabalhador

abr 23

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“Nosso período regular de trabalho ia das cinco da manhã até as nove ou dez da noite. No sábado, até as onze, às vezes meia-noite, e então éramos mandados para a limpeza das máquinas no domingo. Não havia tempo disponível para o café da manhã e não se podia sentar para o jantar ou qualquer tempo disponível para o chá da tarde. Nós íamos para o moinho às cinco da manhã e trabalhávamos até as oito ou nove horas quando vinha o nosso café, que consistia em flocos de aveia com água, acompanhado de cebolas e bolo de aveia tudo amontoado em duas vasilhas. Acompanhando o bolo de aveia vinha o leite. Bebíamos e comíamos com as mãos e depois voltávamos para o trabalho sem que pudéssemos nem ao menos nos sentar para a refeição”. O depoimento anterior foi feito pelo operário inglês John Birley, em maio de 1849, ao descrever a sua rotina diária de trabalho nas fábricas, que desde aquele momento ganhava forças no cenário britânico e europeu a partir da Revolução Industrial. Ler este depoimento nos dias de hoje pode transmitir uma sensação de que a rotina narrada é mais exigente e desumana que o comum. Entretanto, se forem analisados outros operários entrevistados nessa época, se percebe que cargas horárias como a de Birley eram bem mais comuns do que se pode pensar. E assim se comprova pelo fato de que milhões de trabalhadores das indústrias inglesas, nos quais até crianças eram incluídas, viviam diariamente essa árdua vida cotidiana, sem haver a mínima garantia de leis que impedissem estes abusos aos trabalhadores. Apesar de que essa situação tenha se amenizado hoje em dia com a evolução social e legislativa, ainda se é presente, atualmente, cargas e condições de trabalho abusivas, que retiram dos empregados qualquer acesso ao lazer e à família.


No Brasil, desde o governo de Getúlio Vargas, se garante por Constituição diversos direitos trabalhistas, bem como a garantia de um salário-mínimo, a regulação da carga horária, férias e folgas renumeradas, entre tantos outros direitos que asseguram aos funcionários boas condições de trabalho e renumeração pela mão de obra oferecida. Contudo, essas garantias não são legisladas desde sempre. A Revolução Industrial foi marcada, dentre outras mudanças, pela transição da manufatura para a produção por meio de indústrias, com o objetivo de acelerar a produção, torná-la mais eficiente e mais barata, gerando maior lucro para a empresa. Porém, um dos maiores gastos necessários era para pessoas que manuseassem estes equipamentos e completassem o serviço feito pelas máquinas. Assim, foi encontrada a solução para manter o objetivo de obter o maior lucro possível: oferecer salários irrisórios e condições precárias nas fábricas em troca de um expediente de cerca de 80 horas semanais, gerando assim uma exacerbada fabricação, com uma alta quantidade de produtos montados e atingindo a alta demanda da época. Com isso, o lado humano pouco preocupava à alta burguesia, chegando até a adotar o emprego de crianças, devido ao acesso às máquinas, como as da indústria têxtil, ser mais fácil para pessoas dessas idades. A conclusão que se chega é que a Revolução Industrial e a transição da produção trouxeram apenas sequelas imediatas negativas no que diz respeito à qualidade de vida de operários. Com o passar do tempo, com a evolução da sociedade, da legislação e a maior conscientização a esse assunto causou uma melhora enorme nas condições de trabalho, principalmente com a origem dos direitos trabalhistas citados anteriormente. Contudo, isso não significa que essa precária qualidade dos funcionários tenha se extinguido. Pelo contrário, ainda são vistos atualmente abusos na jornada de trabalho, trabalho infantil e até analogia ao trabalho escravo, expondo uma realidade ainda longe da ideal, mesmo que esteja mais próxima do que há tempos derradeiros.


“Não consigo passar tempo com minha família, não vejo meus amigos e não tenho um momento de lazer de descanso. Tô tão cansado que troco o dia da minha folga só pra dormir”. Assim como se observou no relato de um trabalhador do Século XIX, nos tempos atuais ainda pode-se perceber relatos de empregados que sofrem com a exigida rotina de trabalho. O depoimento mostrado dessa vez foi feito por Oliver James, brasileiro de 30 anos, no qual foi feito em 2024, mas que mesmo assim se assemelha com a entrevista feita em 1849. Oliver, como milhões de pessoas pelo Brasil e pelo mundo, vivem uma situação de dificuldade em seus empregos, que afetam a qualidade de vida desses indivíduos e lhes retiram direitos assegurados por lei, como o direito ao lazer. Longas distâncias entre a moradia e o local de trabalho, ocasionados pela falta de oportunidade de emprego nas regiões de suas localidades, ademais de uma calamitosa situação do transporte público e do tráfego nas estradas nacionais, um salário-mínimo que não corresponde com a inflação, diminuindo assim o poder de compra do trabalhador e jornadas de trabalho abusivas que chegam até às 12 horas diárias e, dependendo da escala de trabalho, entre 60 a 72 horas semanais, que infringem a lei que determina o máximo 8 horas diárias e 44 horas semanais, corroem a comodidade da vida das pessoas que ocupam a classe assalariada. Se torna impossibilitado ter uma vida confortável e perto de sua família mediante essas situações, o que afeta até na produtividade desses empregados em seu trabalho. Foi comprovada essa tese por uma pesquisa do instituto inglês “Autonomy” e publicada no jornal da Universidade de São Paulo (USP), no qual, durante o segundo semestre de 2022, inúmeras empresas reduziram o expediente dos seus funcionários em um dia, dando um acréscimo de um dia de folga aos trabalhadores na semana, como forma de teste para observar como a produtividade seria afetada. Ao fim da pesquisa, 92% das empresas resolveram manter o expediente reduzido, demonstrando que a produtividade não foi afetada negativamente, mas pelo contrário, aumentou durante esse período. Assim, se demonstra mais eficaz para a empresa manter uma jornada de trabalho regular, e a qualidade de vida das pessoas só tende a aumentar significativamente, como se viu nos últimos séculos com as medidas trabalhistas tomadas. No que visa ao lucro e à efetividade do serviço prestado, o melhor a ser realizado é a regulação da rotina de trabalho, e a mesma situação serve à vida da população. Se torna sem motivos, assim, manter uma rotina abusiva ao trabalhador e ferir seu lazer. Com a conscientização social cada vez maior, a tendência é de melhora das condições de trabalho, o que favorece a todos os lados da relação trabalhista, fazendo com que todos os lados se prosperem. Nossa realidade ainda está longe de ser ideal, mas o caminho para tal se mostra cada vez mais favorável.



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