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As cores da esperança

set 9

3 min de leitura

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Era uma manhã vibrante em Bogotá. Os raios de sol iluminavam as montanhas ao redor, e a

cidade acordava em meio ao caos ordenado de seu cotidiano. Maria, uma jovem de 17 anos,

observava o horizonte da pequena janela de sua casa, uma morada humilde de tijolos

aparentes no bairro de Ciudad Bolívar. Lá, a vida era dura. As promessas de prosperidade que

ecoavam nas ruas dos bairros centrais, como La Candelaria, pareciam distantes.

Maria cresceu em meio à pobreza, à violência e ao descaso. Seu pai, um trabalhador

incansável, perdeu-se para a guerra interna entre guerrilhas e paramilitares. Sua mãe, dona

Rosa, lavava roupa para os vizinhos, enquanto tentava dar uma educação digna aos filhos.

Mas o destino sempre parecia escorregar pelas mãos. A escola de Maria tinha poucos

recursos, e muitos dos seus amigos já haviam deixado os estudos para trabalhar ou, pior, se

juntado a gangues. O narcotráfico, um legado cruel que insistia em assombrar a Colômbia,

era uma sombra constante.

Ainda assim, Maria não deixava de sonhar. Havia algo na sua alma que ansiava por mais,

algo que a conectava com a rica cultura de seu país. Ela adorava a música que ouvia nos

mercados locais — as cumbias, os vallenatos, o ritmo apaixonado da salsa e até o reggaeton

que surgia das bocas dos mais jovens. Aqueles sons eram como batidas de um coração que se

recusava a parar de lutar, uma herança que pulsava em cada esquina.

Numa tarde, enquanto ajudava sua mãe a estender as roupas, Maria ouviu falar de um projeto

cultural no centro da cidade. Chamava-se Los Colores de Colombia. Era um programa que

buscava conectar jovens de bairros marginalizados com as tradições culturais do país. A

princípio, a ideia parecia surreal. Como um grupo de adolescentes das periferias poderia se

envolver com algo tão grandioso? Mas Maria sentiu uma faísca dentro de si. Com o pouco

que tinham, ela e sua mãe conseguiram reunir dinheiro para o ônibus e, no dia seguinte,

Maria foi ao centro.

A cidade parecia diferente vista de outro ângulo. As ruas do centro eram cheias de turistas e

artistas de rua. Graffiti colorido contava histórias de resistência, de amor, de uma Colômbia

que queria se libertar das correntes da violência e desigualdade. Quando chegou ao espaço do

projeto, Maria foi recebida por uma mulher chamada Paloma, uma coreógrafa que estudou

danças tradicionais colombianas, mas que dedicava sua vida a resgatar essas tradições nas

favelas.

Paloma ensinou Maria e outros jovens não só a dançar, mas também a entender o que aquelas

danças representavam. Os tambores africanos nas costas da cumbia, as raízes indígenas nas

máscaras do carnaval de Barranquilla, o calor caribenho que se refletia nas guitarras do

vallenato. A cada passo que dava, Maria sentia o peso de sua história, mas também o poder

de sua cultura.

Aos poucos, o grupo de jovens começou a ser notado. Participaram de festivais locais, depois

regionais. Em cada apresentação, era como se estivessem dançando contra o estigma, contra a

marginalização que insistia em moldar suas vidas. Maria se tornava uma líder, uma voz de

sua geração, uma jovem que carregava em si as cicatrizes de um país dividido, mas que,

através da arte, encontrava um caminho de cura.

No dia da grande apresentação no Teatro Mayor Julio Mario Santo Domingo, Maria e seus

amigos estavam nervosos. Era a primeira vez que se apresentariam diante de uma plateia tão

importante. Mas quando as luzes se acenderam e os tambores começaram a soar, todos os

medos desapareceram. Maria liderava a dança com o peito aberto, o coração pulsando no

ritmo da Colômbia. Cada movimento contava uma história de luta, de resistência, mas

também de esperança. E naquele momento, os jovens de Ciudad Bolívar não eram mais

invisíveis.

Naquele dia, as desigualdades não desapareceram, a pobreza ainda era uma realidade dura de

enfrentar. Mas, através da dança, Maria e os outros jovens encontraram algo que ninguém

poderia lhes tirar: o orgulho de ser colombiano, o poder de uma cultura rica e resiliente que,

apesar de todas as adversidades, florescia em meio ao concreto e à desigualdade.

E assim, Maria voltou para casa não como uma vítima de seu destino, mas como uma

portadora das cores da Colômbia, uma esperança que não se apagava, mesmo nas esquinas

mais sombrias de sua cidade.


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